quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Whitney Houston mostra força de diva em novo CD

Jon Pareles, The New York Times

Sete anos depois do lançamento de seu último álbum de musica pop e dois anos depois de seu divórcio, Whitney Houston ressurge com qualificações de uma diva completa com o álbum I Look to You, lançado na última segunda-feira.

Sem adversidades, uma diva é apenas uma cantora. É o pano de fundo, sua história de lutas e tenacidade, que leva o público a enxergar mais do que musicalidade em suas apresentações. Neste caso, a cantora toca em algo pessoal, levando quem escuta a canção a se sentir uma testemunha, um confidente, um juiz, um voyer, ou até tudo isso ao mesmo tempo. Em seu novo álbum, a maior parte das revelações de Whitney não é verbal: elas estão presentes no tom rouco e veemente de sua voz.

Whitney começou sua carreira com uma virtuose dotada de um glorioso instrumento vocal. Em sua estreia, em 1985, ela cantava sobre inocência, amor, lealdade e dignidade, enquanto sua voz mostrava sua força entre arquejos e murmúrios, além do brilho do pop e de floreios do soul-gospel (o álbum de estreia trazia Whitney em um vestido branco drapeado com um ombro à mostra, assim como a capa de I Look to You). É provável que ela tenha se tornado a cantora de soul que definiu sua geração em uma era que não era dominada pela agitação do hip-hop.

Depois disso, veio o casamento com Bobby Brown seguido por um turbulento divórcio (cujas tensões eram exibidas em um reality show na TV). Houve também apresentações públicas em estado abalado - como em sua aparição em carne e osso em um tributo a Michael Jackson em 2002 -, o uso de drogas assumido e sua ausência do pop desde o lançamento do álbum Just Whitney, em 2002 (ela lançou o álbum de Natal One Wish, em 2003).

Ela não foi esquecida. Como fez em 2002 – quando contou abertamente a Diana Sawyer no programa de TV "Primetime" que “às vezes” usava álcool, maconha, cocaína e pílulas - Whitney irá promover seu novo álbum com uma entrevista na televisão que deve garantir muitos pontos de audiência: A abertura da temporada do "The Oprah Winfrey Show", no dia 14 de setembro.

Mais abordável e solidária, Whitney canta para os fãs

Just Whitney foi um álbum defensivo que provocou reações. Ele desencadeou uma cobertura da mídia que “tentou sujar o nome de Whitney”, afetando de forma negativa seu casamento e seu marido. O novo I Look to You, em parceria com Clive Davis, seu mentor de longa data e co-produtor, chega com mais doçura, astúcia e cautela. Ela ainda canta sobre o poder do amor, embora este já nem sempre seja benigno. O álbum se divide entre canções que fazem alusões à sua luta e outras que tentam ignorá-la, como a suave “Million Dollar Bill”, primeiro single com matizes da Motown, escrito e produzido por Alicia Keys e Swizz Beatz.

A canção título, de autoria de R. Kelly, remonta aos dias de glória de Whitney, revelando o quanto ela mudou. Como na faixa “I Will Always Love You”, canção de Dolly Parton que acabou se tornando a marca registrada de Whitney em 1992, “I Look to You” é uma balada de raízes gospel que se desenvolve para um voto de devoção antes de ir se adelgaçando humildemente.

Apesar de fluir com clareza, sua voz parecia chorosa em 1992, quando fazia triunfantes saltos de uma oitava. “I Look to You” é uma oração, um apelo desesperado à fé: “Depois que toda minha força se foi, em você posso ser mais forte”. Agora sua voz está mais forte e grave, e suas frases de improviso são mais curtas. Em uma curva descendente, elas parecem ser puxadas pela gravidade, tornando Whitney mais abordável, até mesmo mais solidária.

Sua história de vida também se funde à batida eletrônica de “Nothin’ but Love”, que promete o amor “até para aqueles que tentaram me ferir”, e à canção-hino de Diane Warren, “I Didn’t Know My Own Strength”, que deve se tornar um inspirador padrão de diva: “Eu tropecei e cai, mas não desmoronei/Eu consegui superar toda a dor”. A canção “Salute”, última faixa do álbum e também de autoria de R. Kelly, também fala de rupturas amorosas e tem arranjos em uma escala musical mais baixa: “Você diz que eu nunca vou me sair melhor/ Ok, certo, pode ser”, ela canta em tom de zombaria.

Para as faixas dançantes, o álbum conta com a ajuda de outros criadores de sucessos do momento, como Fernando Garibay, Stargate e Nathaniel Hills (aka Danja). E Whitney colabora com o produtor e cantor Akon em canções mid-tempo que prometem reconciliação – com um homem, mas, talvez também com o público que agora escuta Beyoncé, Keyshia Cole, Rihanna e Ledisi. Algumas vezes, como na insinuante e melancólica “Like I Never Left”, é quase impossível distinguir sua voz do croon afinado pelo computador de Akon. Novamente ela tenta subir na máquina do pop, mas, desta vez, não de forma invencível, mas mostrando a determinação de uma diva.